Ano 1300 – Cebrero (Espanha)
Na diocese de Lugo, na Galícia, vivia cerca de meia légua de um povoado chamado Cebrero um morador que tinha tanta devoção ao santo sacrifício da Missa, que por nenhuma ocupação, nem por inclemência alguma dos tempos, jamais deixava de ouvi-la com grande proveito de alma.
Um dia, teve o bom homem que forcejar muito contra ventos, neve e tempestades para poder chegar à igreja de Cebrero.
Estava um sacerdote rezando Missa, sem imaginar que alguém pudesse, naquele tempo tão tormentoso, subir à igreja. Já havia consagrado a Hóstia e o Cálice quando o piedoso aldeão chegou, e espantando-se o sacerdote quando o viu, menosprezou-o interiormente, pensando:
– Por que é que vem esse homem, tão cansado e debaixo de tão grande tempestade, só para ver um pouquinho de pão e vinho!
Mas o Senhor, que em todo lugar, por mais escondido que seja, obra suas maravilhas, quis abrir os olhos do seu miserável ministro, que havia duvidado da fé do Sacramento, e recompensar com um estupendo milagre a constante devoção do bom aldeão que veio ouvir a Missa com tantos incômodos. E aconteceu que a Sagrada Hóstia se converteu em Carne e o vinho em Sangue.
Durante muito tempo permaneceu na sua patena a Hóstia envolta com carne, e o Sangue no mesmo cálice em que havia acontecido o milagre, até que passando a rainha D. Isabel de Portugal, em romaria a Santiago de Compostela, e hospedando-se no mosteiro de Cebrero, quis ver um prodígio tão maravilhoso, e quando viu, mandou pôr a Carne adorável numa redoma e o precioso Sangue noutra.
“Eu – disse o historiador Pe. D. Antonio Yepes – , ainda que indigno, vi e adorei este sagrado Mistério quando passei por aquele lugar e vi as duas ampolas, e numa está o Sangue, como se acabasse de coalhar, e tão colorido como se fosse de um cordeiro recém-abatido. A Carne, que se vê por trás do cristal, é seca e tem a cor de carne. O cálice em que ocorreu o milagre até hoje se conserva com o sinal do Sangue, e todas estas coisas sagradas se levam em procissão do dia de Corpus Christi e nas festas de Nossa Senhora de Agosto e de Setembro, dias esses em que acode muita gente para se beneficiar das graças e de suas indulgencias”.
(Pe. D. Antonio Yepes, Crônica de la Ordem de San Benito)
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