A TRANSUBSTANCIAÇÃO

Ano 1263 – Bólsena (Itália)

Se a insigne Catedral de Orvieto é célebre na Itália e fora dela, graças a sua beleza artística e especialmente pela riqueza e magnificência de sua fachada, não é menos notável e querida aos devotos filhos da Igreja Católica, porque guarda o tesouro inestimável de uns Corporais manchados com o sangue vivo do Redentor.

O acontecimento prodigioso se acha confirmado pela autoridade de setenta e oito historiadores italianos e estrangeiros, entre os quais figuram Baronius, Muratori, Panvinius e Ughelli.

O fato se passou em 1263, quando o Papa urbano IV se refugiou com a Corte Pontifícia em Orvieto, a fim de proteger-se das sacrílegas vexações que os apaniguados de Manfredi, intruso rei da Sicília, cometiam contra o Patrimônio de São Pedro.

Nessa ocasião aconteceu de passar por Bólsena, que então pertencia à Diocese de Orvieto, um sacerdote alemão que se dirigia em peregrinação à Roma.

A finalidade de sua viagem era venerar o sepulcro dos Apóstolos São Pedro e São Paulo e, impedir, por sua mediação, a graça de se ver livre das impertinentes dúvidas que desde algum tempo o afligiam com relação à presença real de Jesus Cristo na Eucaristia. Antes de prosseguir viagem, o peregrino entrou na igreja dedicada à Virgem e Mártir Santa Cristina, para rezar a Santa Missa.

Estava o sacerdote celebrando o Santo Sacrifício quando, no ato de sustentar a Hóstia já consagrada para parti-la sobre o cálice, esta se converteu toda em carne e sangue, com exceção de um pequeno fragmento que tinha entre os dedos. As gotas de sangue que se desprendiam da sagrada Hóstia marcaram os Corporais.


Assombrado o sacerdote, e desejando ocultar aquele sangue, dobrou os Corporais, mas em vão, porque até nas dobras deles se reproduziram vinte e cinco manchas, mas qual aparece impressa a imagem do Salvador, no triste aspecto com que foi mostrado ao povo judeu por Pilatos.

Espantado e quase fora de si pelo prodígio, sem força nem ânimo para continuar a Santa Missa, o celebrante tomou a Sagrada Hóstia convertida em carne junto com os Corporais e o purificador, desceu os degraus do altar e foi levando tudo à sacristia. Neste caminho aconteceu que da hóstia sacrossanta e dos lenços sagrados caíram algumas gotas de Sangue, ficando marcadas as manchas em quatro pedras distintas do pavimento, que era de mármore.

Uma dessas pedras se venera no próprio altar em que ocorreu o prodígio, e a outra no altar-mór da nova igreja, denominada “do Milagre”.

Sumamente comovido o sacerdote por todo o ocorrido, tomou a determinação de ir a Orvieto, onde se lançou aos pés do Sumo Pontífice e lhe pediu a absolvição de suas faltas, relatando a história do prodigioso sucesso.

Informado do fato, ordenou o Papa ao bispo de Orvieto que fosse a Bólsena e dali trouxesse as sacrossantas relíquias. Chegado o bispo, na presença do clero e de uma multidão imensa de povo que havia acudido, tomou na sacristia da igreja de Santa Cristina a Hóstia adorável e os sagrados lenços tintos de sangue, e acompanhado por sacerdotes e pelo povo se dirigiu a Orvieto.

Junto à ponte que atravessa a Torrente chamada Riochiaro, lhe foi ao encontro o Sumo Pontífice, acompanhado do Sacro Colégio dos Cardeais, de eclesiásticos, associações religiosas, autoridades civis e militares e de uma inumerável multidão de fiéis.

Profundamente inclinado e de joelhos em terra, o supremo Hierarca da Igreja adorou o Santíssimo Sacramento, e tomando das mãos do bispo a sagrada Hóstia convertida em carne, assim como os Corporais manchados com o preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo, conduziu em procissão até a cidade, entre os devotos cânticos do clero e do povo, depositando-os no sacrário da Catedral.

Essa foi, depois da de Daroca, na Espanha, a segunda procissão de Corpus Christi.

Na verdade, foi providencial o admirável acontecimento, pois determinou ao Sumo Pontífice Urbano IV instituir em toda a Igreja católica a festividade de Corpus Christi, que já havia algum tempo lhe era pedida pela Beata Juliana, cisterciense de Liège.

Essa solenidade anual foi decretada pela Bula Transiturus, publicada em Orvieto no ano de 1264, e fixada para a quinta feira depois da oitava de Pentecostes.

O prodigioso acontecimento deu mais tarde motivo a que os orvitanos edificassem sua magnífica catedral, na qual se encontra reunido tudo quanto se pode desejar de harmônico, rico, belo e grande na arquitetura, pintura, escultura e obra de mosaico.

Os sagrados Corporais mancados com o prodigioso Sangue são venerados na mesma Catedral, dentro de um precioso tabernáculo.


(Baronius, Annales Ecclesiastici – Ughelli, Ital. Sacra)

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