Na despedida, a promessa de voltar sempre


O caminho pode até ser árduo, mas o fim é compensador. Este é o sentimento da maioria dos fiéis que acompanharam a principal romaria do Círio de Nazaré, na manhã deste domingo. Depois de uma vasta programação de procissões, que juntas somam um percurso de 130 km, os veneradores da Santa gastaram as últimas energias no derradeiro trajeto da festividade, que finalizou com uma missa especial na Praça do Santuário. Um esforço que encontra abrigo na fé.

Em torno das 11h de ontem, uma multidão tomou a Avenida Nazaré, em direção à Basílica, cujo nome também homenageia a padroeira de Belém. Apesar dos olhares cansados, expressões de alegria eram facilmente encontradas em meio ao mar de gente. Um mosaico de pessoas que levam para a casa as boas lembranças de uma das maiores festas católicas do país.


Janaína Gonçalves, de 29 anos, é uma das pessoas que chegou firme ao final da romaria. Depois de acordar às 2h da manhã, para acompanhar a procissão principal do Círio, a empregada doméstica arregaçou as mangas da camisa, dobrou a barra da calça jeans e completou os 3,6 km do percurso. “Esta é a terceira vez que consigo realmente fazer todo o caminho até o final. É uma alegria muito grande, que preenche o coração. Para minha casa, eu só levo ainda mais amor pela Virgem de Nazaré. E assim como prometi a mim mesma, ano que vem estou aqui de novo”, assegura.

A família Ribeiro Campos não perdeu tempo. Josilena e suas três filhas preferiram cortar caminho e se posicionar em um bom local para assistir a chegada da berlinda à Praça do Santuário. “Estamos aqui desde às 9h30. Esse momento da missa final é a que mais me emociona”, diz a mãe, de 54 anos. Para a primogênita da família, Aline, o único motivo de tristeza é saber que tudo vai acabar. “Eu adoro o Círio! Me dá pena saber que já está acabando”, lamenta a estudante.

Enquanto alguns anseiam a chegada da Santa embaixo das sombras das mangueiras, outros se sacrificam por uma promessa. Eliana Silva de Oliveira, de 43 anos, chega à Basílica Santuário de Nazaré ajoelhada, com a ajuda e solidariedade de voluntários da Cruz Vermelha.

Mesmo sem forças para falar, a paraense disse à reportagem do DIÁRIO que começou a promessa na altura da Praça da República. “Meu irmão ficou doente e prometi que faria isso se ele melhorasse. Agradeço à Santa pela saúde dele”, conta a promesseira.

Com a neta mais nova no colo, Valdecir Araújo largou o serviço do táxi mais cedo neste sábado para aproveitar a última missa da romaria. “Eu me emociono com tanta fé. Para a gente que vive cada bocado no cotidiano é como lavar a alma”, diz. Indagado se a companhia da pequena Flávia não cansa seus braços, ele responde sem titubear: “Que nada! Assim como fui criado pelos meus pais, vindo para o Círio, quero fazer a mesma coisa com minha netinha”, explica.

Depois da missa final da romaria, celebrada pelo bispo auxiliar de Belém, Dom Teodoro Mendes Tavares, os fiéis que resistiram à fome e ao sol forte sobre suas cabeças, puderam voltar para a casa com a sensação de dever cumprido. “Depois desse momento de fé é hora da cidade voltar ao normal. Para os pés cansados, basta um pouco de água quente. O resto a gente corre atrás”, diz sabiamente Robson Almeida Cruz, que pela 15ª vez percorreu a romaria. “Ano que vem tem mais”, completa o devoto.

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