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Devo ir à missa por pura obrigação? - A Resposta Católica


Muitos se perguntam se devem ir à missa no domingo mesmo sem vontade, por pura obrigação. Para responder à essa pergunta é preciso antes entender como é o funcionamento da alma humana e de como se pode prestar culto a Deus.


O homem é constituído de corpo e de alma e é a alma que deve comandar o corpo, mesmo que os 'sentimentos' do corpo não estejam colaborando. É como um pai que leva o seu filho à missa: a alma é o pai e o corpo é o filho. Ora, o filho esperneia e diz que não quer ir, mas o pai é firme e exerce um ato de vontade sobre o filho.

A alma humana possui três áreas: a inteligência, a vontade e a afetividade (sentimentos). Elas devem obedecer a essa hierarquia, deste modo, quando a pessoa sente dificuldade em ir à missa é porque a afetividade está querendo sobrepor-se às demais, porém, a sua inteligência sabe o que é o certo e determina à vontade, ordena à afetividade que vá mesmo assim.

Não se trata de hipocrisia. Quando uma parte do indivíduo não quer ir à missa é justamente nesse momento que se vislumbra a oportunidade de mostrar a Deus o quanto o ama, pois uma oração que é feita na luta é uma oração que tem mais valor porque é feita na consolação.

Nenhuma das três áreas da alma devem ser excluídas da vida espiritual, mas elas devem obedecer à hierarquia. A inteligência é a área usada para o ato principal da vida espiritual: a oração. A vontade também pertence à vida espiritual e quando é ela quem comanda, a isso se dá o nome de devoção. Finalmente, quando a afetividade (sentimentos) entram na vida espiritual ocorre a consolação.

Contudo, mesmo que o indivíduo não receba consolações na vida espiritual, ou seja, quando ele está passando por um período de aridez, de deserto, não deve desanimar, pois esta é a área que está mais em contato com o corpo e, portanto, não é tão sublime.

Neste momento, a vontade deve vir em socorro da afetividade e o indivíduo deve perpetrar atos de devoção em que, mesmo não sentindo grande consolação, os gestos concretos de vontade por ele realizados, ajudarão o intelecto, a razão, a parte superior de sua alma a prestar o culto a Deus. Aquele culto referido por São Paulo como logiké latréia, ou seja, uma adoração lógica, do Logos, um culto espiritual em que o indivíduo dobra sua inteligência diante da sabedoria infinita de Deus para pedir a Ele tudo aquilo que convém para a salvação da própria alma e das outras pessoas.

“Ei, católicos, vocês adoram imagens!” “Ah tá. Fale com a minha mão.”

Nem cheirar, nem matar, nem traficar, nem roubar doce de criancinha; o pecado mais atiça a sanha dos nossos irmãos evangélicos é a idolatria. E, nesse ponto, quase todos os católicos vivem sendo “crenticados”.

A estratégia dos nossos acusadores é a da tijolada: pegam uma passagem da Bíblia, tiram ela do seu contexto e a lançam na nossa cabeça, sem dó. Neste caso, o tijolo, isto é, o texto que usam como arma para atacar a nossa fé é o seguinte:
Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura, nem figura alguma do que está em cima, nos céus, ou embaixo, sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas e não lhes prestarás culto. (Ex 20:3-5)
De fato, o texto não deixa margem para dúvidas: prestar culto a imagens de santos, como nós católicos fazemos, seria realmente um pecado gravíssimo… na época do Antigo Testamento. A proibição era, então, absolutamente necessária, mas perdeu o seu sentido quando o Velho deu lugar ao Novo Testamento.

Explico: o povo que vivenciou o Êxodo era, em grande parte, idólatra. A crença no Deus de Abraão, Isaac e Jacó não os imunizou da influência religiosa dos demais povos. Assim, o culto aos ídolos – primeiramente o bezerro de ouro, e depois os baals – era uma fonte de frequentes aborrecimentos e decepções para o Senhor.

Por isso, havia o grande risco de os hebreus perceberem o Deus da Aliança como mais um deus, o que deus estava “em alta” no momento, e não como O Deus, Único e Verdadeiro. Javé precisava deixar claro o abismo que havia entre os ídolos e Ele: Ele não é produto da mente humana, nem tampouco a Sua doutrina. Ele é o Deus que se revelou, Ele é Aquele que É (“Eu Sou Aquele que Sou” – Ex:3-14). Os ídolos, por sua vez, eram patéticos e impotentes objetos de pau, metal ou pedra, que representavam esquemas religiosos e doutrinas criadas pela imaginação humana.

Assim, foi preciso tomar uma medida educativa: proibir que o povo fizesse qualquer imagem do Senhor, para deixar claro que Ele não era mais um deus inventado, moldado por mãos humanas. Ademais, ninguém conhecia o Seu rosto, e nenhuma imagem poderia ficar à altura da Sua imensa glória:
No dia em que o SENHOR vos falou do meio do fogo no Horeb, não vistes figura alguma. Guardai-vos bem de corromper-vos, fazendo figuras de ídolos de qualquer tipo. (Dt 4, 15-16)
Entendida a razão que originou da proibição do culto às imagens? Então, passemos à segunda parte da história…

“Jingle Bells, jingle Bells!…”. Deus finalmente nos mostrou a Sua face. Todo o poder, o amor, a beleza, a misericórdia e a força Deus sem rosto e sem nome cabiam agora no corpo de um Menino. Os olhos dos homens finalmente podiam contemplar a FIGURA do Criador: “Quem Me vê, vê também Aquele que Me enviou” (Jo 12:45).

Talvez o nariz ou os olhos fossem parecidos com os de Sua Mãe. Talvez. Mas o certo que os traços do rosto de Jesus não seriam jamais esquecidos ou ignorados pelos cristãos da comunidade primitiva. As paredes das catacumbas estão lá, para quem quiser e puder ver: pinturas de santos – inclusive de Maria, ó que pecado! – e personagens bíblicos para todo o lado.

Assim, não podemos compreender a Bíblia sem considerar a Tradição da Igreja, que, desde os primeiros séculos, entendeu que os ícones que representavam o Senhor, Maria e os santos exprimiam de forma legítima a fé e a esperança do nosso povo. Não custa lembrar o óbvio: a proibição do culto às imagens está diretamente relacionada ao combate à adoração de outros deuses. Por isso, o mandamento que condena a idolatria não se aplica no caso das imagens católicas, já que estas nos remetem à glória do próprio Cristo. Os ícones católicos nos testemunham sobre a vida de personagens reais e históricos (e não imaginários, como os ídolos), que dedicaram sua vida ao Senhor.

A relação dos católicos com as imagens de Jesus e dos santos é comparável à que qualquer pessoa tem com a fotografia das pessoas amadas. Quando olhamos a imagem de alguém importante para nós, a afeição se projeta; trazemos as fotos com carinho na carteira, colocamos em um canto de destaque na sala, beijamos o papel inerte quando a saudade aperta… E ninguém, por mais imbecil que seja, faria algum comentário infeliz aludindo a “idolatria”.

Pra encerrar, digo que este post não tem o objetivo de fornecer munição para que você, católico, possa se justificar quando te “crenticarem”. Não vale a pena gastar a saliva (a não ser nos raros casos em que há a possibilidade de um diálogo honesto e objetivo). O papo aqui é mesmo para nos ajudar a compreender as raízes da nossa própria identidade. Assim, sabendo quem nós somos e porque nós somos, nos tornamos mais capazes de viver a nossa fé de forma alegre, livre e consciente.

Por isso, se alguém vier lhe chamar de idólatra, não discuta. Manda o cara falar com a sua mão.

Fonte: O Catequista

A Igreja Católica e os não católicos

A Igreja católica olha com respeito os cristãos que estão fora dos seus limites. O Catecismo nos ensina algo muito importante sobre isso: "Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor... Justificados pela fé recebida no batismo, estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são chamados com o nome de cristãos, e merecidamente reconhecidos pelos filhos da igreja católica como irmãos no Senhor" (Un. Redintegratio,3), (Catecismo nº. 818).

A Igreja também reconhece que: "Muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja Católica: a palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade e outros dons do Espírito Santo" (UR, 3).

O Catecismo ainda afirma que: "O Espírito Santo de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude da graça e da verdade que Cristo confiou à Igreja Católica". Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e impelem à "unidade católica" (Lúmen Gentium, 8).

Essas palavras não querem de forma alguma dizer que podemos aceitar essa triste realidade dos irmãos separados da fé católica, "como se tudo estivesse bem". Não. O verdadeiro ecumenismo nunca será uma forçada justaposição de muitas igrejas, mas o reconhecimento de que só há uma Igreja fundada por Jesus e que contém com garantia todo o "depósito da fé" e “a plenitude dos meios da salvação”.

Embora reconheça tudo isso, a Igreja católica tem consciência de que ela possui, como disse o Papa João Paulo II, "por vontade expressa de Deus, a plenitude dos meios da salvação", ou seja, "todos os instrumentos da graça"(UR,3 e 4).

Nossos irmãos separados da fé católica, que já nasceram nas igrejas ditas evangélicas, não podem ser culpados pela separação havida no passado; contudo, estão desprovidos de muitos meios de salvação e santificação que Jesus nos deixou: Sacramentos, devoção a Maria, a intercessão, santos, sacramentais, etc.

É preciso lembrar aqui que quando a Igreja Católica se refere às igrejas protestantes, ela pensa naquelas tradicionais e históricas, não nessa multidão incontável de seitas que se multiplicam a cada dia, de maneira incontrolável e independente.

A "Lumen Gentium" deixa bem claro que:

"A única Igreja de Cristo é aquela que nosso Salvador, depois da sua Ressurreição, entregou a Pedro para apascentar e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la... Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele" (LG, 8).

Prof. Felipe Aquino

O pior mal se chama pecado

Não sei se você já notou, mas o primeiro sacramento que Jesus instituiu, após a Sua Ressurreição, no mesmo dia desta, foi o da confissão (cf. Jo 20,22). “Como o Pai me enviou, eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos” (cf. Jo 20, 22-23).

Isso mostra que Jesus estava desejoso de distribuir o “remédio” que a humanidade precisava; o perdão dos pecados para ser feliz. Tirando-se  ele, tira-se a morte eterna (cf. Rm 6,23). O Catecismo da Igreja nos mostra toda a gravidade do pecado: “Aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave do que o pecado e nada tem consequências piores para os próprios pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (§ 1488).

Por outro lado, o Catecismo afirma que ele é uma realidade: “O pecado está presente na história dos homens; seria inútil tentar ignorá-lo ou dar a esta realidade obscura outros nomes” (CIC §386). O Catecismo diz com toda a clareza: “A morte corporal, à qual o homem teria sido subtraído se não tivesse pecado (GS,18), é assim o último inimigo do homem a ser vencido” (1Cor 15, 26).

Santo Agostinho dizia: “É desígnio de Deus que toda alma desregrada seja para si mesma o seu castigo". "O homem se faz réu do pecado no mesmo momento em que se decide a cometê-lo.” Sintetizava tudo dizendo que “pecar é destruir o próprio ser e caminhar para o nada.” 

Ele dizia de si mesmo nas confissões: “Eu pecava, porque em vez de procurar em Deus os prazeres, as grandezas e as verdades, procurava-os nas Suas criaturas: em mim e nos outros; por isso precipitava-me na dor, na confusão e no erro.”

O demônio escraviza a humanidade com a corrente do pecado. Jesus veio exatamente para quebrar essa corrente. São João deixa bem claro na sua carta: “Sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados” (1Jo 3,5). “Para isto é que o Filho de Deus se manifestou, para destruir as obras do diabo” (1 Jo 3,8). 

Essa “obra do diabo” é exatamente o pecado. Podemos, agora, viver uma nova vida. É o que São Paulo ensina na Carta aos Colossenses: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus” (Col 3,1).

Aos romanos ele garante: “Já não pesa mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te libertou da lei do pecado e da morte” (Rom 8,1).

Aos gálatas, o apóstolo diz: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão” (Gal 5,1). Santa Catarina de Sena ensina: “Tão grande é a liberdade humana, de tal modo ficou fortalecida pelo precioso Sangue de Cristo, que demônio ou criatura alguma pode obrigar alguém à menor culpa, contra o seu parecer. Acabou-se a escravidão, o homem ficou livre”. 

Assim como a missão de Cristo foi libertar o homem do pecado, a missão da Igreja, que é o Seu Corpo místico, a Sua continuação na história, é também a de libertar a humanidade do pecado e levá-la à santificação. Fora disso, a Igreja se esvazia e não cumpre a missão dada pelo Senhor. A palavra "Jesus" quer dizer, em hebraico, “Deus salva”. Ele salva dos pecados e da morte. Na Anunciação, o anjo disse a Maria: "… lhe porás o nome de Jesus" (Lc 1, 31).

A José, o mesmo anjo disse: “Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados”. (Mt 1,21). A salvação se dá pelo perdão dos pecados; e já que “só Deus pode perdoar os pecados” (Mc 2,7), Ele enviou o Seu Filho para salvar o Seu povo dos seus pecados. “Foi Ele que nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados”  (1Jo 4,10).
“Este apareceu para tirar os pecados “ (1Jo 3,5).

Prof. Felipe Aquino

Estado laico e humanismo integral

Sob o pretexto do uso da expressão “Estado laico” vem se desenhando no Brasil uma proposital confusão entre o que seja “sociedade” e “Estado”. Aquela [sociedade] é maior que este [Estado], portanto, o Estado é um servidor da sociedade e de seus valores e não o contrário. 

O pluralismo de ideias e a dignidade da pessoa humana, princípios fundantes de nossa República, são garantidos no artigo 1º, incisos III e V de nossa Carta Magna. Prestigiar essa variação cultural de nosso povo é preceito constitucional. Também não se pode tratar como expressões sinônimas, Estado laico = humanismo ateu, outro enfadonho equívoco que se vislumbra nas entrelinhas dos debates atuais. 

A proposta de vida cristã pautada no Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo não é um ideal para “vida privada”, para o “recôndito do lar”, mas sim uma proposta que faz parte da cultura brasileira, da vida pública do povo brasileiro, daí porque o suposto “Estado laico” não pode querer excluir o aspecto religioso da vida pública. Seria criar um Estado sem sociedade, o que é um retorno às ditaduras no século XX.

Não queremos um retorno ao Estado religioso, mas também não podemos admitir que o Estado laico seja sinônimo de um Estado ateu, no qual “quem de alguma forma professe uma fé religiosa seja ela qual for, seja considerado um cidadão de segunda categoria e por isso tenha de ficar quieto e não se manifeste” – com bem acentua Dom Odilo Scherer (“Fazemos questão do Estado laico”, Época, 25/06/2007, p.110).

Precisamos de clareza na cena política. O Estado é laico, mas a sociedade não o é. Ao contrário, em sua grande maioria a sociedade professa uma fé religiosa, cuja manifestação está garantida como direito fundamental no artigo 5º, VIII da Constituição Federal. Portanto, aos cristãos cabe o chamado de Cristo: “Duc in altum” ["Faz-te ao largo" (Lc 5,4)].

Não obstante o governo é pluralista e laico, logo, não pode impor que a proposta da Igreja Católica por um humanismo integral seja vista como coisa estranha, ao contrário, é uma proposta que faz parte da cultura e da vida brasileira. Defender o uso de crucifixos e Bíblias em prédios e espaços públicos, lutar contra o aborto, defender a família, defender a vida humana na integralidade é dever missionário dos cristãos que formam a maioria do povo brasileiro, muito embora o Estado (microparte da sociedade) seja laico. “Não somos cidadãos de segunda classe”, insisto em Dom Odilo Scherer.

É oportuno lembrar o que diz o procurador-geral da República aposentado, Cláudio Fonteles, quando pontua com base na Doutrina Social da Igreja (DSI) que o Estado deve ser visto de forma subsidiária quando se discute a temática das questões sociais, com preeminência para pessoa e seus valores. Diz ele: “é de muito relevo à Doutrina Social da Igreja o chamado princípio da subsidiariedade, que significa posicionar as instituições oficialmente engendradas pela razão humana, ou seja, o Estado e todo o aparato de serviços públicos executivos, legislativos e judiciais postos à satisfação das necessidades da pessoa humana, na vida em sociedade, em plano secundário. Vale dizer: toda essa estrutura executiva, legislativa e judicial não pode chamar a si a definição absoluta das questões sociais, subjugando, alienando, excluindo a pessoa humana do exercício de sua subjetividade criadora, manifestada singular ou comunitariamente.”

Por trás da defesa intransigente do chamado “Estado Laico” revela-se sorrateiramente a ideia de um humanismo ateu, humanismo inumano, ou fragmentado, se comparado ao humanismo integral defendido pela Igreja. Indagamos: é possível um humanismo ateu? Diz Henri de Lubac: “Não é certo que o homem, tal como parece querer dizê-lo, por vezes, não possa organizar a terra sem Deus. O que é verdade é que, sem Deus, ele não pode, no fim de contas, organizá-la senão contra o homem. O humanismo exclusivo não passa de uma humanismo inumano” (“O drama do humanismo ateu”, Editora Porto: Lisboa, 1943, p.10).

Quando destruímos embriões, fazemos apologia ao aborto, violamos a família e negamos de forma contumaz a pobreza crescente, não só estamos refutando o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, estamos desrespeitando os próprios direitos humanos plasmados na Constituição Federal e o humanismo integral. 

E como se define um humanismo integral em rechaço ao “humanismo ateu” que se desenha em paralelo ao “Estado Laico”. Quem pode nos responder é o Compêndio da Doutrinal Social da Igreja em seu parágrafo 153, que à luz da tradição bimilenar da Igreja diz; “153 – A raiz dos direitos do homem, com efeito, há de ser buscada na dignidade que pertence a cada ser humano. Tal dignidade, conatural à vida humana e igual em cada pessoa, se apreende antes de tudo com a razão. O fundamento natural dos direitos se mostra ainda mais sólido se, à luz sobrenatural, se considerar que a dignidade humana, doada por Deus e depois profundamente ferida pelo pecado, foi assumida e redimida por Jesus Cristo mediante a Sua encarnação, morte e ressurreição. A fonte última dos direitos humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio homem e em Deus seu criador. Tais direitos são “universais, invioláveis e inalienáveis, enquanto “inerentes à pessoa humana e à sua dignidade” e porque “seria vão proclamar os direitos, se simultaneamente não se envidassem todos os esforços a fim de que seja devidamente assegurado o seu respeito por parte de todos, em toda parte e em relação a quem quer seja. Inalienáveis, enquanto “ninguém pode legitimamente privar destes direitos um seu semelhante, seja ele quem for, porque isso significaria violentar a sua natureza”.

Enfim, o que está no cenário é um “Estado laico” ao lado de um humanismo ateu e cristofóbico em contraste com uma sociedade que deseja ardentemente viver no aqui-e-agora um humanismo integral. Como lembra Frei Raniero Cantalamessa: “A suprema contradição que o homem de sempre experimenta – entre a vida e a morte – foi superada. Mas a contradição mais radical não está em viver e morrer, mas entre viver “para o senhor” e viver “para si mesmo”... Viver para si mesmo é novo nome da morte.” (“O poder da cruz”. 5º ed. Loyola: São Paulo, 2009, p. 13).

Roberto Wagner Lima Nogueira
Advogado, Professor,
Mestre em Direito Tributário.

A Orkutização do Natal


Jingle Bells, Povo Católicoooo!!!!

Acabamos de passar o último domingo do Advento.  O que para o nosso cotidiano quer dizer que… lá se foi a última chance de passar no shopping para comprar presentes!

Uepa!  Tem coisa errada aí, não tem?  Claro!  Você esqueceu também o amigo oculto e a roupa arrasadora que ia comprar para a festa de final de ano!  Ai, caramba! Ainda tem o reveillón na praia com a galera!  Muitas coisas!!!! Acho que só rezando pra conseguir.  Ah… talvez rezar fosse a única coisa a ser feita.  Mas aos poucos, transformamos (ou permitimos transformar) a “encarnação do Verbo” em “festas de fim de ano”.

Parabéns pelos seus 2000 anos!
Pra começar, o que é o Natal?  Pensa aí… 1, 2, 3… seu tempo acabou.  Você provavelmente deu aquela simplificada e mandou: “é o aniversário de Cristo!”.  Muito bem.  Você acertou o que 80% dos católicos pensam ser o Natal.  Tem até padre que puxa parabéns na missa.  Essa, na verdade, foi a primeira fase da orkutização do Natal.

Aniversário é contagem de anos.  É a comemoração de uma data! Mas, não é isso que estamos lembrando no Natal.  Nem tampouco estamos celebrando o simples nascimento de uma criança.  É muito mais do que isso!!!

O que comemoramos verdadeiramente é a encarnação do Verbo. É que Deus se fez homem e habitou entre nós (lembra da oração do Angelus?).  É algo incrívelmente extraordinário que Deus nos ame tanto que se dê ao trabalho de se tornar um de nós.  Mais do que isso: abraçou com tanto amor a nossa miséria que mesmo o seu nascimento ocorreu como o de qualquer outro ser humano, ou seja, por meio de uma mulher.  Tudo começa ali.  A Nova Aliança, a nossa salvação, começa a tormar suas formas definitivas ali,  naquela noite em Belém.

Entender esse significado coloca por terra a famosa encheção de saco dos ateus, sobre a verdadeira data do Natal: pouco importa se Cristo nasceu ou não no dia 25 de dezembro.  O que estamos comemorando é o fato em si, não a data. Mas é fácil esquecer disso, porque abstraímos com muita facilidade o fato de que Jesus Cristo é o próprio Deus.

Mas, não há nada que não possa piorar.

Qual é a coisa mais importante em um aniversário?  O aniversariante?  Nada disso!  É a festa!!!  Claro!  Quando você é convidado para uma festa de aniversário, espera com ansiedade e se arruma horrores pra ocasião.  Mas quantas vezes se lembrou de caprichar no presente do aniversariante?  Quase sempre seu presente é apenas um abraço desejando muitas felicidades (isso se você souber quem é o aniversariante)!

Então, como no Natal estamos simplesmente comemorando o aniversário de Cristo, nada mais natural do que… esquecer Cristo e focar na festa!  Olha aí a segunda fase da orkutização!  Agora temos um monte de tradições vindas de não-sei-onde, mas que certamente não são da Igreja:  Chester, peru, bacalhau, rabanada, presentes, Papai Noel by Coca-cola…  nos preocupamos mais em botar nossos filhos no colo de um cara de barba postiça, do que ensiná-los a grandeza do que realmente aconteceu.

Garanto que São Nicolau era mais simpático...
Importamos um monte de baboseiras que jamais existiram na cena original (como bonecos de neve), ou fazemos loucuras como comer sementes oleaginosas (maravilhosas no rigoroso inverno europeu), suando feito porcos a 40 graus.  Enquanto isso… símbolos oriundos da tradição católica, como a Árvore de Natal, a guirlanda e São Nicolau (o Papai Noel de verdade), se tornam simplesmente adornos sem sentido algum.

Como arte é legal.
Mas como presépio..
Do Presépio então nem se fala.  Não existe símbolo católico mais avacalhado.  Já teve Cristo nascendo em cidade medieval, favela, campo de futebol, MARTE!!!!  Enfim… virou expressão artística, mas perdeu sua função de fazer meditar sobre a encarnação de Deus.

Vai aqui um desafio: quantas vezes você foi à Missa do Galo ou ao menos fez uma contemplação do nascimento de Cristo na noite de Natal? Provavelmente não dava pra fazer isso no meio da festa.  Pois é.  Esse é o Natal de 80% dos católicos.

Mas, não há nada que não possa piorar.

É importante dizer
que esta foto não é minha!!!
Orkutização final: quem tem mais ou menos 30 anos, já recebeu cartão de natal da empresa (em papel) desejando um “Feliz Natal e um próspero ano novo”.  Mas quem tem pouco mais de 20 só recebeu “Boas Festas”.  Pois é.  Não é politicamente correto deixar tão evidente uma festa relacionada a uma religião. Então, a galera agora bota tudo no mesmo bolo e deseja apenas que as festas (repare bem no termo: FESTAS) de fim de ano sejam boas.  Isso inclui aquele mega-rega-bofe da empresa que sempre termina em bebedeira e silêncio no dia seguinte (ou em demissão).

Olhe em volta.  Repare nos out doors, nos cartazes, nos comerciais de TV.  Além da Leader Magazine (“já é natal…”),  ninguém está diferenciando a celebração pela encarnação de Deus, dos festejos pelo incremento de um número ao ano corrente. E quando lembram (como é o caso da referida loja) é só pra lembrar você de fazer compras.  É Papai Noel pra tudo que é lado.  Cristo que é bom…

Mas, não há nada que não possa piorar.

Calma… ainda não piorou.  Mas acho que não falta muito para os feriados religiosos deixarem de existir, por não serem “politicamente corretos”.

Agora, povo católico, depois de tudo isso, não se sintam culpados pelos presentes comprados e nem saiam por aí puxando a barba dos papais noéis (tem plural isso?).  Aproveitem a festa em família.  Mas saibam colocar em primeiro lugar o real motivo da comemoração: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”.

E na verdade, ainda habita.  Lembre-se disso.

Abraços!

Fonte: O Catequista

Levando Gato por Lebre – São Nicolau de Mira e Papai Noel

E estamos chegando perto do Natal,

Todos os anos, somos expostos à história mais 171 do mundo: é a que compara São Nicolau de Mira a esse ícone pagão criado pela coca-cola que atende pelo nome de papai noel (vou escrever assim mesmo, com letra minúscula).  Pior, colocamos ele como símbolo emblemático do Natal.

Vamos lá gente, parem e pensem: que filme de papai noel vocês já assistiram que faz uma menção mínima de Jesus? Aliás, desde quando gnomos são parte da tradição cristã (o bom velhinho tá sempre cercado deles)?  Tá bom, tem gente que vai me considerar mais fundamentalista que o aiatolá Khomeini, mas com relação a Nosso Senhor Jesus Cristo não devemos fazer concessões.

Ocorre que muitos cristãos fiéis e bem intencionados desconhecem totalmente as origens da lenda do papai noel e menos pessoas ainda conhecem a história de São Nicolau.  Esse mico, criado por comunistas e protestantes, está tão entranhado na cultura que até falar contra ele leva a reações de indignação.

Em virtude disso, resolvi apresentar nas próximas linhas um comparativo que trata de ambos os personagens, o piedoso bispo de Mira e o fictício bom velhinho.

SÃO NICOLAU DE MIRA

Um dos significados de seu nome, e o qual eu considero mais pertinente, é “vitória sobre os vícios que são populares e vis”.  Não sabemos com exatidão a data de seu nascimento.  Filho de família abastada e pia, seus pais o geraram logo nos primeiros dias do seu matrimônio e, após a gravidez de sua mãe Joana, passaram o resto da vida em continência sexual. Sua legenda consta na “Legenda Áurea” e é atribuída a duas fontes principais.  Um grupo conhecido como “doutores argólidas” e o diácono João.

Nascido em Patras (Grécia), foi desde muito cedo dotado de um sentimento religioso ímpar.  Sabia a Bíblia de cor, e olha que a bíblia de São Nicolau era pré-nicena, não tinha zíper nem capa temática.  Podre de rico, após a morte de seus pais passou grande parte de seu tempo matutando um jeito de como utilizar sua riqueza de modo a agradar a Deus.

A principal história de sua vida, que foi responsável pelo vinculação de sua imagem à de papai noel, diz respeito à desventura de um vizinho seu, nobre, mas falido, que estava em vias de prostituir as filhas (ele tinha três). Nicolau apiedou-se da situação da família e jogou um saco de moedas pela janela da casa do homem, que pôde casar sua filha mais velha (naquela época, as mulheres precisavam pagar um dote á família do noivo para poderem se casar).  O mesmo sucedeu com as outras duas, sendo Nicolau denunciado apenas na terceira vez, porque jogou uma quantia de dinheiro tão grande que o barulho assustou o dono da casa, que saiu em seu encalço e beijou-lhe os pés.

Mas as façanhas de São Nicolau não param por aí. Nicolau participou do Concílio de Nicéia.  Também foi vítima de Diocleciano, o “Dirty Harry dos cristãos do século IV“, que o meteu em cana por perseverar na fé (crime meio ridículo não?).  É padroeiro da Rússia, da Noruega e da Grécia.  Também é o santo protetor dos marujos.  Ademais não bastasse o croata que mais odiava cristãos na sua época no seu pé, São Nicolau também teve os seus problemas dentro da Igreja, chegando a tacar a mão na lata de um bispo.

Mas o verdadeiro bom velhinho tinha outra preocupação.  Crianças.  Dedicou-se a promover o bem estar das crianças e de suas mães através da educação, tanto secular quanto espiritual.  Muitos milagres são narrados em que a intercessão de São Nicolau beneficia antes de mais nada crianças.

A historiografia laica, pra variar, diz que os seus restos (tidos como milagrosos, fonte de um óleo a que se atribui propriedades curativas) foram roubados de Mira e levados a Bari.  Não foi bem assim.  Em 1047, quando isso ocorreu, os muçulmanos estavam barbarizando na Turquia.  Os 47 soldados e 4 monges que visitavam os restos em Mira tinham a seguinte opção, ver os muçulmanos, muito educadinhos, destruírem o santuário, ou sair correndo de volta para a Itália. Logo…

Bom, São Nicolau é, ainda, padroeiro dos estudantes. Esse grande homem de Deus partiu em 06 de dezembro de 343, seus restos descansam ainda hoje na catedral de Bari.

PAPAI NOEL

Falemos agora do “bom velhinho”.

É muito comum os católicos, ao conhecer as versões européias do mesmo que a mídia nos enfia goela abaixo, abraçarem papai noel como sendo São Nicolau com outro nome.  Isso é um grande erro.  O papai noel moderno que vemos hoje é um amálgama de vários elementos, reais e fictícios, que povoam o imaginário ocidental desde dos tempos do paganismo, incluindo demônios e o próprio São Nicolau. Entre outros, escolhi três personagens que compõe esse amálgama: Belsnickel, Krampus e Olentzero.

Belsnickle: dava varadas nas crianças más.
Nesses tempos em que se
proíbem até palmadas, ele iria ver a
Estrela de Belém nascer quadrada.
Primeiro, vamos falar de Belsnickel ou “Nick, o Peludo” .  Esse aqui não é nada simpático, mas é o arquétipo da aparência do papai noel.  Trata-se da figura de um homem coxo, que se veste com uma horrenda capa de pele de urso, e sai na noite de natal distribuindo… varadas. Isso mesmo, varadas em crianças que foram mal educadas.

Nick também é chamado de o Palatinado, e faz parte do folclore dos países saxões.  Ele é conhecido por sua longa e espessa barba grisalha. Só para se ter uma ideia, o santa claus dos americanos também é chamado de “old nick”.  Em algumas versões, Nick é visto com um saco, onde enfia as crianças, e sua intenção não é apenas dar varadas, mas matá-las. Muuuuitooooo parecido com São Nicolau, não acham?

Já a figura do Krampus tornou-se mais presente depois da difusão do mito de São Nicolau como bem-feitor das crianças.  Krampus é um demônio assustador que andaria na companhia do bom velhinho, e seria o responsável pelas punições dadas as crianças mau comportadas.  Muitas morreriam apenas em olhar para ele.  O que sobreviveu do Krampus na figura do papai noel de hoje seria o hábito de colocar carvão nas meias das crianças más.  Essa tradição carvoeira não passou para a América Latina, mas ainda hoje é viva no mundo anglo-saxão e na Escandinávia.
Olentzero: Bom velhinho de verdade.
Mas deixava carvão para as crianças más.

Olentzero é o papai noel basco, é uma figura ligada a mitos pagãos. Basicamente, é um carvoeiro que distribui presentes na noite de Natal para as crianças que se comportaram bem durante o ano e para as más, adivinhem… carvão!   Bom, no frio medonho do País Basco, um pouco de carvão nem devia ser um presente tão ruim. A tradição do Oletzero é vivíssima como elemento de identificação nacional basca e preservação da cultura eusquera.

Esses são só alguns elementos de composição da imagem do papai noel, há muitos outros mais, mas já deu pra perceber do que se trata.

Mas agora, o cerne da questão é… quem foi que juntou isso tudo?

É aí que entra a figura do cartunista alemão Thomas Nast.  Esse fulano era o típico revolucionário anticatólico, do tipo que você encontra aos montes nas faculdades de história e sociologia hoje.  Nast foi aluno de Kaufmann e tem até uma certa, embora remota, ligação com nossa República da Banânia; cobriu a guerra de unificação da Itália, que tinha como expoente o “herói de duas nações” Guiseppe Garibaldi, o maridão da Anita Garibaldi.

Thomas Nast:
o inventor do Papai Noel
Foi Nast, baseado na figura do Belsnickel, com uma alteração aqui e ali, quem criou o papai noel (santa claus).  Uma pantomima utilizando-se de um mito pagão, feita por um cartunista ateu para ridicularizar a Igreja. Talvez por isso o papai noel seja tão ateu quanto seu criador.

O trabalho de Nast foi concluído pela coca-cola.  O papai noel definitivo foi idealizado na década de 30 para vender refrigerante no Natal, e pegou.  Hoje faz parte do imaginário dos ocidentais, mesmo em países que não têm tradição de dar presentes dia 25 de dezembro, como a Espanha – onde a entrega de presentes é dia 6 de janeiro, Dia de Reis, o que acho muito mais lógico, já que o simbolismo dos presentes dados a Jesus (ouro, mirra e incenso) se confirma nessa data.

Enfim, depois de tudo isso, não podemos mais nos enganar achando que papai noel é São Nicolau.  Não chega nem perto.  A verdade é que o “bom velhinho” é um grande vendedor de presentes.  E só.  Enquanto isso, São Nicolau foi um homem que serviu a Deus até seu último minuto de vida.

Mesmo assim, não há porque demonizar a figura criada pela coca-cola, que já virou uma tradição.  Mas não permita que ele se torne o centro do Natal.  Esteja atento para ensinar aos seus filhos o verdadeiro sentido desta grande festa, que é o fato de que Deus tenha se encarnado.  Não os deixe pensar que essa data é apenas uma oportunidade para ganhar presentes.

Abraços e Feliz Natal!

Fonte: O Catequista

CRISTO REI DO UNIVERSO



O Ano Litúrgico, constituído por diversos ciclos, termina com a Festa de Cristo Rei. Jesus nasce com o título de Rei e é agora proclamado pela Igreja como Rei do universo. É o cume de um reinado que foi manifestado num amor extremo, selado na cruz e na glorificação eterna.

Numa visão, o profeta Daniel contempla o trono de Deus e seu juízo sobre o mundo. Ele vê também alguém como “filho de homem” sobre o trono (Dn 7, 9-14). Nos Evangelhos, a expressão “filho de homem” refere-se a Jesus Cristo, àquele que veio do alto para construir o Reino de Deus.

Devemos entender que não são os poderes do mundo que determinam a história, mas sim, aquele que é o Senhor da história, fazendo triunfar o seu Reino. Isto significa que a última palavra sobre o mundo pertence a Deus. É até uma questão de fé e certeza de que as forças do mundo são meramente passageiras.

O centro da história é Jesus Cristo, que veio como Rei, caminha como Rei e termina seu ciclo na terra como Rei. É o mesmo que dizer: “aquele que é, que era e que vem”. Ele é o cumprimento da Aliança feita por Deus com Abraão lá no passado, que só acontece no gesto de doação total na prática do amor.

Mesmo dizendo que o Brasil é o maior país cristão do mundo, Jesus continua sendo o grande desconhecido pelo nosso povo. Desta forma, não criamos paixão por Ele e agimos de forma desregrada, sem compromisso social e ferindo a dignidade das pessoas. Não conseguimos perceber que o amor cristão implica defender a vida do outro, que tem o mesmo direito que nós.

Jesus nunca impôs seu poder através do uso da violência desumana, porque não tinha pretensões egoístas. Sua ação ia além dos limites do mundo e passava por uma prática de testemunho coerente e visível aos olhos da sociedade de seu tempo. Com isto Ele instaurou um reinado que contradiz com os poderes mundanos.

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba - MG

Monge é um tipo de fiscal da natureza?


Quando se fala em vida monástica, o que lhe vêm à mente? Homens que passam os dias passeando despreocupados pelos jardins, rezando, entoando cânticos gregorianos, bebendo vinho… E é só. Ê vidão! O que quase ninguém diz é que os monges católicos estão entre os grandes construtores da civilização ocidental.

O mundo deve aos monges copistas a preservação dos textos da Grécia Antiga. Sem eles, os professores ateus e anticatólicos que tanto vilipendiam a Igreja não teriam sentido nem de longe o cheiro dos textos de Platão, Aristóteles, Pitágoras e outros grandes pensadores gregos. Durante os primeiros séculos da Idade Média, as tribos bárbaras, ainda não cristianizadas, invadiam as cidades e, muitas vezes, destruíam tudo o que viam pela frente, inclusive as bibliotecas. Com o seu zeloso trabalho de cópia manual e preservação dos escritos, os monges nos legaram não só os clássicos antigos, mas também a Bíblia.

Após a queda do Império Romano, o caos e a miséria ameaçaram a Europa. Com o seu duro trabalho braçal, os monges – especialmente os beneditinos – transformaram brejos em terras férteis e introduziram uma variedade de grãos e novas técnicas agrícolas (como a roda hidráulica e os moinhos de vento). Por isso, muitas cidades se desenvolveram em torno dos monastérios.

Durante o reinado do imperador católico Carlos Magno (768-814), a Europa experimentou um notável desenvolvimento cultural. Incrementando o número de escolas nos mosteiros, conventos e abadias, Carlos Magno promoveu a instrução aos leigos por parte da Igreja. Estas escolas monásticas foram a semente da criação das universidades.

Até aqui, falamos somente das colaborações monásticas à sociedade leiga no campo material (de forma muito incompleta e sucinta, é bom salientar). Mas tesouro mais valioso que eles nos legaram e continuam a nos legar com sua vida de oração e penitência é invisível e incalculável.

Deseja saber mais sobre o assunto? Leia Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental, de Thomas Woods Jr. – Editora Quadrante.

Fonte: O Catequista

O CATÓLICO E A IGREJA

Não se pode ser “mais ou menos católico”, isto é, aceitar uma ou outra verdade religiosa ensinada pela Igreja, deixando algumas de lado. Isso é orgulho espiritual de alguém que pensa saber mais do que a Igreja, assistida e guiada pelo Espírito Santo desde Pentecostes (cf. João 14,15.25; 16,12-13; Lucas 10,16).

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina que o que nos salva é a verdade:

“Com efeito, Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (I Tm 2,4). Deus quer a salvação de todos pelo conhecimento da verdade. A salvação está  na verdade” (CIC § 851).

E São Paulo afirma que “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade” (I Tm3,15).

“A missão do Magistério está ligada ao caráter definitivo da Aliança instaurada por Deus em Cristo com seu Povo; deve protegê-lo dos desvios e dos afrouxamentos e garantir-lhe a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica. O ofício pastoral do Magistério está, assim, ordenado ao cuidado para que o Povo de Deus permaneça na verdade que liberta. Para executar este serviço, Cristo dotou os pastores do carisma de infalibilidade em matéria de fé e de costumes. O exercício deste carisma pode assumir várias modalidades” (CIC § 890).

O grande Papa São Gregório VII (1073-1085), que quebrou a fúria de Henrique IV e a triste “investidura leiga” dos séculos X e XI, declarou no seu documento Dictatus Papae: “A Igreja romana nunca errou, e segundo o testemunho das Escrituras nunca cairá no erro.” (n,22) “Ninguém deve ser considerado católico se não estiver de pleno acordo com a Igreja Católica.” (n.26). (Registrum Gregorii VII,MGH, Ep. Sel. II, n. 55ª - História da Igreja, Roland Frohlich).

O grande padre Leonel França, o maior jesuíta que Brasil conheceu, (1893-1948), fundador e reitor da primeira Universidade Católica do Brasil: PUC- RJ, disse: “[...] Quem não tem um conceito exato, uma percepção viva da infinita, absoluta e inefável majestade de Deus, na inviolabilidade soberana dos seus direitos, não pode entender a intransigência dogmática da Igreja Católica. A Igreja não é autora de um sistema humano, filosófico ou religioso, é depositária autêntica de uma revelação divina".

Cristo ensinou-nos uma doutrina celeste: "A doutrina que eu vos ensinei é d’Aquele que me enviou" (São João, 7,16; 12,49). Aos seus discípulos ordenou que a transmitissem a todo o gênero humano na sua integridade incorruptível. "Ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei' (Mt 26,20). E para que a falibilidade humana não alterasse o depósito divino, prometeu-lhes a eficácia preservadora de sua assistência. "Estarei convosco até o fim dos séculos".

A Igreja Católica tem, pois, promessa divina de imortalidade e infalibilidade. Não foi, não será nunca infiel à sublimidade da sua missão. Quando a sinagoga, alarmada com os prodígios que sancionavam o Cristianismo nascente, prendeu os apóstolos e lhes impôs um silêncio criminoso, Pedro respondeu aos sinedritas um sublime: “non possumus” (não podemos).

No volver dos séculos nunca desmentiu a Igreja as promessas deste seu batismo de sinceridade. Todas as vezes em que o erro, armado como a força, mascarado como o sofisma ou “sub dolo” como a política, bateu às portas do Vaticano, pedindo ou impondo-lhe uma concessão, uma aliança, um compromisso, saiu-lhe ao encontro um ancião inerme e venerável na candura simbólica de suas vestes, e, com voz firme e olhar fito no céu, respondeu-lhe: “Non possumus...”.

E a Igreja continuará assim a sua missão de Mãe e Mestra da fé, até que o Cristo volte. São Paulo disse que sempre haveria hereges e heresias, que surgem de dentro da Igreja. Mas o Apóstolo disse que isso era bom para que saibamos onde está o erro e a verdade.

O bom católico não discute o que a Igreja ensina, ele ama e vive com ação de graças o que ela lhe diz. É grato a Deus por lhe mostrar pela Igreja o caminho reto que leva à felicidade neste mundo e ao céu na eternidade. Quando eu era menino ensinaram-me uma oração que nunca esqueci e que fiz dela minha norma de vida. É o ATO DE FÉ:

“Eu creio firmemente que há um só Deus, em três Pessoas realmente distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Creio que o Filho de Deus se fez homem, padeceu e morreu na cruz para nos salvar e ao terceiro dia ressuscitou. Creio em tudo o mais que crê e ensina a Santa Igreja Católica, porque Deus, Verdade infalível, o revelou. Nesta crença quero viver e morrer”.

Prof. Felipe Aquino

COMO SER UM CATÓLICO BEM FORMADO?


O autor da Carta aos Hebreus escreveu: “Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque é ainda criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal” (Hb 5, 13-14). Sem esse “alimento sólido”, que a Igreja chama de “fidei depositum” (o depósito da fé), ninguém poderá ser verdadeiramente católico e autêntico seguidor de Jesus Cristo.

Não há dúvida de que a maior necessidade do povo católico hoje é a formação na doutrina. Por não a conhecer bem, esse mesmo povo, muitas vezes, vive sua espiritualidade, mas acaba procedendo como não católico, aceitando e vivendo, por vezes, de maneira diferente do que a Igreja ensina, especialmente na moral. E o pior de tudo é que se deixa enganar pelas seitas, igrejinhas e superstições.

Em sua recente viagem à África, que começou em 17 de maio de 2009, o Papa Bento XVI deixou claro que a formação é o antídoto para as seitas e para o relativismo religioso e moral. Em Yaoundé, em Camarões, o Sumo Pontífice disse que “a expansão das seitas e a difusão do relativismo – ideologia segundo a qual não há verdades absolutas –, tem um mesmo antídoto, segundo Bento XVI: a formação.” Afirmando que: “O desenvolvimento das seitas e movimentos esotéricos, assim como a crescente influência de uma religiosidade supersticiosa e do relativismo, são um convite importante a dar um renovado impulso à formação de jovens e adultos, especialmente no âmbito universitário e intelectual.” E o Santo Padre pediu “encarecidamente” aos bispos que perseverem em seus esforços por oferecer aos leigos “uma sólida formação cristã, que lhes permita desenvolver plenamente seu papel de animação cristã da ordem temporal (política, cultural, econômica, social), que é compromisso característico da vocação secular do laicado.”


Desde o começo da Igreja os Apóstolos se esmeraram na formação do povo. São Paulo, ao escrever a S. Tito e a S. Timóteo, os primeiros bispos que sagrou e colocou em Creta e Éfeso, respectivamente, recomendou todo cuidado com a “sã doutrina”. Veja algumas exortações do Apóstolo dos Gentios; a Tito ele recomenda: seja “firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem” (Tt 1, 9). “O teu ensinamento, porém, seja conforme à sã doutrina” (Tt 2,1).

A Timóteo ele recomenda: “Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a Macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias” (Tm 1, 3-4). E “Recomenda esta doutrina aos irmãos, e serás bom ministro de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé e da sã doutrina que até agora seguiste com exatidão” (1Tm 4,6). São Paulo ensina que Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2, 4).

Sem a verdade não há salvação. E essa verdade foi confiada à Igreja: “Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). Jesus garantiu aos Apóstolos na Última Ceia que o Espírito Santo “ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13) e “relembrar-vos-á tudo o que lhe ensinei” (Jo 14, 25). Portanto, se o povo não conhecer esta “verdade que salva”, ensinada pela Igreja, não poderá vivê-la. Mas importa que essa mesma verdade não seja falsificada, que seja ensinada como recomenda o Magistério da Igreja, que recebeu de Cristo a infalibilidade para ensinar as verdades da fé (cf. Catecismo da Igreja Católica § 981).

Já no primeiro século do Cristianismo os Apóstolos tiveram que combater as heresias, de modo especial o gnosticismo dualista; e isso foi feito com muita formação. São Paulo lembra a Timóteo que: “O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas, de hipócritas e impostores [...]” (1Tm 4,1-2).

A Igreja, em todos os tempos, se preocupou com a formação do povo. Os grandes bispos e padres da Igreja como Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Atanásio, Santo Irineu, e tantos outros gigantes dos primeiros séculos, eram os catequistas do povo de Deus. Suas cartas, sermões e homilias deixam claro o quanto trabalharam na formação dos fiéis.

Hoje, o melhor roteiro que Deus nos oferece para uma boa formação é o Catecismo da Igreja Católica, aprovado em 1992 pelo saudoso Papa João Paulo II. Em sua apresentação, na Constituição Apostólica “Fidei Depositum”, ele declarou: “O Catecismo da Igreja Católica [...] é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé”. E pede: “Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão e que o usem assiduamente ao cumprirem a sua missão de anunciar a fé e de apelar para a vida evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica […]. O “Catecismo da Igreja Católica”, por fim, é oferecido a todo o homem que nos pergunte a razão da nossa esperança (cf. lPd 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê.”

Essas palavras do Papa João Paulo II mostram a importância do Catecismo para a formação do povo católico. Sem isso, esse povo continuará sendo vítima das seitas, enganado por falsos pastores e por falsas doutrinas. 

Mais do que nunca a Igreja confia hoje nos leigos, abre-lhes cada vez mais a porta para evangelizar; então, precisamos fazer isso com seriedade e responsabilidade. Ninguém pode ensinar aquilo que quer, o que “acha certo”; não, somos obrigados a ensinar o que ensina a Igreja, pois só ela recebeu de Deus o carisma da infalibilidade. Ninguém é catequista e missionário por própria conta, mas é um enviado da Igreja. Sem a fidelidade a ela, tudo pode ser perdido. Portanto, é preciso estar preparado, estudar, conhecer a Igreja, a doutrina, a sua História, o Catecismo, os documentos importantes, a liturgia, entre outros. Quanto mais conhecemos a Igreja e todo o tesouro que ela traz em seu coração, tanto mais a amamos.

Prof. Felipe Aquino

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE A BÍBLIA CATÓLICA E A BÍBLIA PROTESTANTE? - A RESPOSTA CATÓLICA



A diferença entre a bíblia católica e a protestante está no Antigo Testamento, ou seja, o Novo Testamento é idêntico tanto para os católicos quanto para os evangélicos. São 27 livros, começando pelo Evangelho de Mateus e terminando no Livro do Apocalipse.

Qual é a diferença, então, no Antigo Testamento? A diferença reside no cânon dos livros. Ou seja, uma diferença na lista dos livros. Para os católicos, o Antigo Testamento é formado por 46 livros, enquanto que para os protestantes por apenas 39 livros, nela estão ausentes os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (Sirácida ou Sirac), I Macabeus e II Macabeus. Além disso, faltam alguns fragmentos dos livros de Ester e de Daniel.

Como isso aconteceu e quando? Ora, o católico crê que a Igreja possui um Magistério, ou seja, pessoas escolhidas por Cristo, sucessoras dos Apóstolos, que garantem que o Evangelho transmitido e a fé professada são os mesmos ensinados por Cristo ao longo do tempo.

No século XVI os protestantes afastaram-se desse Magistério e o renegaram. Afirmaram, entre outras coisas, que a Igreja Católica havia se corrompido, portanto, deveriam voltar à Igreja Primitiva num esforço arqueológico para reparar o que teria sido a "traição" perpetrada pela Igreja Católica a Jesus.

Neste esforço arqueológico, os protestantes descobriram que os judeus tinham uma lista diferente de livros, totalizando 39 livros. Daí para concluírem que a "terrível" Igreja Católica acrescentou os outros sete livros foi questão de tempo.

Engana-se quem argumenta que foi Lutero quem retirou os sete livros da Bíblia. Foi um processo lento, no qual ele continuava a publicá-los em sua bíblia, pois tinha pleno conhecimento de que esses sete livros haviam sido acrescentados numa segunda fase. Tanto é verdade e conhecido que são chamados deuterocanônicos. Foi somente no século XIX que os protestantes decidiram abolir de vez esses sete livros do seu cânon.

O Antigo Testamento foi compilado inicialmente em hebraico. O livro era formado por três partes: 1. a Torá que continha os cinco primeiros livros, também chamados de pentateuco; 2. O Neviim que continha os Profetas; 3. O Kethuvim que continha os Escritos. A diferença entre a Tanakh (Bíblia hebraica) e o Antigo Testamento adotado pela Igreja Católica estava no livro que continha os "Escritos".

Interessante frisar que foi muito lento o processo de canonização desses livros. Primeiramente foram canonizados os livros da Torá, posteriormente os dos Profetas e, somente muito tempo depois os dos Escritos. Na época de Jesus o cânon da Bíblia judaica ainda não estava fechado. Portanto, os judeus, contemporâneos de Jesus, ainda debatiam sobre quais eram os livros sagrados. Por exemplo, os saduceus só criam nos livros da Torá, já os fariseus aceitavam os Profetas e os Escritos, mas não totalmente, pois achavam que a inspiração dos Escritos ainda não estava concluída.

Jesus deu uma ordem aos Apóstolos: ide pelo mundo e evangelizai. Ora, o mundo daquela época falava o grego, que era o equivalente ao inglês de hoje, portanto, os Apóstolos começaram a pregar o Evangelho em grego, mas como, se a Bíblia estava em hebraico? Os Apóstolos, então, passaram a utilizar uma tradução da Bíblia do hebraico para o grego denominada Septuaginta, que havia sido elaborada em Alexandria antes de Cristo.

Ocorre que na Tradução dos Setenta, como também é chamada a Septuaginta, estão contidos aqueles sete livros. Ora, um biblista sério é capaz de perceber que em diversas citações do Antigo Testamento encontradas no Novo, a tradução utilizada é a da Septuaginta. Esse era o livro utilizado pelos Apóstolos. A Igreja Católica adotou-o, portanto.

É verdade, também, que houve um conflito entre os cristãos e os judeus, pois estes perceberam que os Apóstolos estavam pregando o Evangelho de forma diferente e, assim, os expulsaram das sinagogas. E esse fato motivou os judeus também a fecharem o cânon dos livros sagrados, o que aconteceu no final do século I, tendo eles decidido pela exclusão definitiva daqueles sete livros que constavam da Septuaginta.

Importante perceber que isso ocorreu um século após a vinda de Jesus. Desta forma, os protestantes, ao aceitarem o cânon da bíblia judaica, estão aceitando a autoridade dos rabinos judeus depois de Cristo.

Muito se poderia argumentar ainda nesse sentido, contudo, para os católicos basta saber que quem define o cânon das Escrituras é a Igreja. Lembrando também que foi esta mesma Igreja quem definiu os outros 27 livros do Novo Testamento, sobre os quais não há discussão. Portanto, uma pergunta que não pode deixar de ser feita é: por que os protestantes aceitam a autoridade da Igreja Católica que definiu os 27 livros do Novo Testamento e não aceitam a autoridade dessa mesma Igreja quanto aos 46 livros do Antigo Testamento?

Até o terceiro século o cânon do Novo Testamento não estava ainda definido. Isso é histórico. Haviam muitas listas, muitas discussões acerca de quais livros deveriam ou não integrar as Sagradas Escrituras. Assim, não há argumento que justifique a postura protestante diante daquele questionamento. A atitude protestante não tem lógica.

O primeiro documento da Igreja faz referência a esse canôn atual (46 livros no Antigo e 27 livros no Novo Testamento) foi o Concílio de Hipona, na época de Santo Agostinho. Infelizmente, não restaram consignados os atos desse concílio. Contudo, quase contemporâneo a Santo Agostinho, tem-se o Decretum Damasi, publicado no ano 382, que diz:
"Agora tratemos das Escrituras divinas, o que a Igreja católica universal deve acolher e que deve evitar.
Começa a ordem do Antigo Testamento. Gênese, 1 livro; Êxodo, 1 livro; Levítico, 1 livro; Números, 1 livro; Deuteronômio, 1 livro;, Josué, 1 livro; Juízes, 1 livro; Rut, 1 livro; Reis, 4 livros, <= Samuel, 2; Reis 2> Paralipômeno<= Crônicas> 2 livros; 150 Salmos [Saltério], 1 livro; Salamão [Salomão], 3 livros; Provérbios, 1 livro; Eclesiastes, 1 livro; Cântico dos Cânticos, 1 livro; Sabedoria, 1 livro; Eclesiástico, 1 livro.
Igualmente, a ordem dos Profetas: Isaías, 1 livro; Jeremias, 1 livro; com as Cinot, isto é suas lamentações; Ezequiel, 1 livro; Daniel, 1 livro; Oséias, 1 livro; Jonas, 1 livro; Naum, 1 livro; Ambacum [Habacuc], 1 livro; Sofonias, 1 livro; Ageu, 1 livro; Zacarias, 1 livro; Malaciel [Malaquias], 1 livro.
Igualmente a ordem das histórias: Jó, 1 livro; Tobias, 1 livro; Esdras [Hesdras], 2 livros <= 1 de Esdras, 1 de Neemias>; Ester, 1 livro; Judite, 1 livro; Macabeus, 2 livros.
Igualmente, a ordem da Escritura do Novo e eterno Testamento, que a Igreja santa e católica [romana] reconhece e venera: dos Evangelhos [4 livros:] segundo Mateus, 1 livro; segundo Marcos, 1 livro; segundo Lucas, 1 livro; segundo João, 1 livro. [Igualmente, dos Atos dos Apóstolos, 1 livro]
Cartas de Paulo [apóstolo], em número de 14: aos Romanos, 1 [ep.], aos Coríntios, 2[ep.], aos Efésios, 1; aos Tessalonicenses, 2; aos Gálatas, 1; aos Filipenses, 1; aos Colossenses, 1; a Timóteo, 2; a Tito, 1; a Filímon [Filêmon], 1; aos Hebreus, 1.
Igualmente, as cartas canônicas [(cân. ep.], em número de 7: do apóstolo Pedro 3 cartas, do apóstolo Tiago 1 ep., do apóstolo João 1 ep., do outro João, o presbítero, 2 ep., do apóstolo Judas o Zelote, 1 ep.
Termina o cânon do Novo Testamento." (DH 179 e 180)

O Catecismo da Igreja Católica em seu número 120 e seguintes ensina sobre o cânon das Escrituras:
"Foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deveriam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados. Esta lista completa é denominada "Cânon" das Escrituras. Ela comporta 46 (45, se contarmos Jr e Lm juntos) escritos para o Antigo Testamento e 27 para o Novo:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, os dois livros de Samuel, os dois livros dos Reis, os dois livros das Crônicas, Esdras e Neemias, Tobias, judite, Ester, os dois livros dos Macabeus, Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes (ou Coélet), o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o Eclesiástico (ou Sirácida), Isaías, Jeremias, as Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, para o Antigo Testamento; os Evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de S. Paulo aos Romanos, a primeira e a segunda aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, a primeira e a segunda aos Tessalonicenses, a primeira e a segunda a Timóteo, a Tito, a Filêmon, a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, a primeira e a segunda de Pedro, as três Epístolas de João, a Epístola de Judas e o Apocalipse, para o Novo Testamento." (120)
Além disso, existem ainda mais dois documentos que citam o cânon das Escrituras. O primeiro é o Concílio de Florença, em seu Decretum pro Iacobitis, de 04 de fevereiro de 1442, que diz:
"A Igreja confessa um só e o mesmo Deus como autor do Antigo e do Novo Testamento, isto é, da Lei e dos Profetas e também do Evangelho, porque os Santos do um e do outro Testamento falaram sob inspiração do mesmo Espírito Santo; e ela aceita e venera os livros deles, compreendidos sob os seguintes títulos:
Os cinco livros de Moisés, isto é, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio; os livros de Josué, dos Juízes, de Rute, os quatro dos Reis, os dois dos Paralipômenos, Esdras e Neemias, Tobias, Judite, Ester, Jó, os Salmos e Davi, os Provérbios, o Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, a Sabedoria, o Eclesiástico, Isaías, Jeremias, Baruc, Ezequiel, Daniel, os doze profetas menores, isto é, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias, ois dois de Macabeus, os quatro Evangelhos de Mateus, de Marcos, de Lucas e de João, as catorze cartas de Paulo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, as duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito, a Filêmon, a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, as duas cartas de Pedro, as três João, uma de Tiago, uma de Judas, os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse de São João."
O segundo é famoso Concílio de Trento que em 08 de abril de 1546 publicou o Decreto sobre os livros sagrados e as tradições a serem acolhidas. Vejamos o que diz:
"O Sacrossanto, Ecumênico e Geral concílio de Trento, congregado legitimamente no Espírito Santo e presidido pelos três legados da Sé Apostólica, propondo-se sempre por objetivo que exterminados os erros se conserve na Igreja a mesma pureza do Evangelho, que prometido antes na Divina Escritura pelos Profetas, promulgou primeiramente por suas próprias palavras, Jesus Cristo, Filho de Deus e Nosso Senhor, e depois mandou que seus apóstolos a pregassem a toda criatura, como fonte de toda verdade que conduz à nossa salvação, e também é uma regra de costumes, considerando que esta verdade e disciplina estão contidas nos livros escritos e nas traduções não escritas, que recebidas na voz do mesmo Cristo pelos apóstolos ou ainda ensinadas pelos apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, chegaram de mão em mão até nós.
Seguindo o exemplo dos Padres católicos, recebe e venera com igual afeto de piedade e reverência, todos os livros do Velho e do Novo Testamento, pois Deus é o único autor de ambos assim como as mencionadas traduções pertencentes à fé e aos costumes, como as que foram ditadas verbalmente por Jesus Cristo ou pelo Espírito Santo, e conservadas perpetuamente sem interrupção pela Igreja Católica. Resolveu também unir a este decreto o índice dos Livros Canônicos, para que ninguém possa duvidar quais são aqueles que são reconhecidos por este Sagrado Concílio. São então os seguintes:
Do antigo testamento: cinco de Moisés a saber: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Ainda: Josué, Juízes, Rute, os quatro dos Reis, dois do Paralipômenos, o primeiro de Esdras, e o segundo que chamam de Neemias, o de Tobias, Judite, Ester, Jó, Salmos de Davi com 150 salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico, Isaías, Jeremias com Baruc, Ezequiel, Daniel, o dos Doze Profetas menores que são: Oseias, Joel, Amós, Abdías, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonías, Ageu, Zacarias e Malaquias, e os dois dos Macabeus, que são o primeiro e o segundo.
Do Novo Testamento: os quatro Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João, os Atos dos Apóstolos escritos por São Lucas Evangelista, catorze epístolas escritas por São Paulo Apóstolo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas, aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, a Tito, a Filemon, aos Hebreus. Duas de São Pedro Apóstolo, três de São João Apóstolo, uma de São Tiago Apóstolo, uma de São Judas Apóstolo, e o Apocalipse do Apóstolo São João. Se alguém então não reconhecer como sagrados e canônicos estes livros inteiros, com todas as suas partes, como é de costume desde antigamente na Igreja católica, e se acham na antiga versão latina chamada Vulgata, e os depreciar de pleno conhecimento, e com deliberada vontade as mencionadas traduções, seja excomungado.
Fiquem então todos conhecedores da ordem e método com o qual, depois de haver estabelecido a confissão de fé, há de proceder o Sagrado concílio e de que testemunhos e auxílios servirão principalmente para comprovar os dogmas e restabelecer os costumes da Igreja." (DH 1501-1505)
Portanto, diferentemente dos protestantes que seguem o princípio da sola scriptura, nós, os católicos não somos a religião de um livro. Somos a religião que crê que em uma Pessoa: Nosso Jesus Cristo, o qual está vivo e presente em sua Igreja. Esta Igreja - Católica Apostólica Romana - que celebra em sucessão apostólica os mesmos sacramentos, crê na mesma fé, nas mesmas Escrituras e que está embaixo do mesmo governo eclesiástico com o Papa e os Bispos em comunhão com ele.

Como disse Santo Agostinho: "Ego vero Evangelio nos crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas" (eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica).