Recordo-me como se fosse ontem. Tinha apenas sete anos quando, convidada por minha vizinha, fui pela primeira vez à missa. Confesso que ali algo aconteceu em minha vida. Imaginem uma criança que não sabia ler direito, não sabia qual era o significado daquela celebração, mas tinha no coração a certeza de que Alguém muito importante estava ali e ela deveria se encontrar com Ele sempre.
Gostaria que estes minutos de leitura nos ajudassem a contemplar este mistério de amor que nos foi deixado aqui na terra, enquanto caminhamos como peregrinos rumo à pátria celeste. Mistério que não se desvenda ou se explica, mas se contempla, ama e acolhe.
Quem nos ajuda neste itinerário é o beato João Paulo II, na sua carta apostólica Mane Nobiscum Domine. No segundo capítulo, intitulado: “Eucaristia, mistério de Luz” nos apresenta a passagem dos discípulos de Emaús. “De fato, a narração da aparição de Jesus ressuscitado aos dois discípulos de Emaús ajuda-nos a por em destaque um primeiro aspecto do mistério eucarístico, que deve estar sempre presente na devoção do povo de Deus: a Eucaristia, mistério de luz! Na Transfiguração e Ressurreição do Senhor, vimos claramente a sua glória. Porém, na Eucaristia, a sua glória está velada. O sacramento eucarístico é o “mysterium fidei” por excelência e, todavia, precisamente através desse sacramento, da sua total ocultação, Cristo torna-se mistério de luz, mediante o qual o fiel é introduzido nas profundezas da vida divina.”
Estamos, portanto, diante de uma graça extraordinária e uma oportunidade única de poder nos aproximar do Sagrado Mistério. É maravilhoso e edificante ver aquelas pessoas simples e fervorosas na fé que, para participarem da Santa Missa, empreendem uma verdadeira viagem. Vão a pé, a cavalo, de carroça, de ônibus, pau de arara. Algum tempo atrás, contam nossos avós, tínhamos a nossa chamada roupa de missa. Era usada nessa ocasião especial. Toda a família se encaminhava na direção do Senhor da história e único que pode dar sentido à vida. Essas coisas boas não poderiam ser esquecidas, mas atualizadas. João Paulo II ressalta ainda o valor do Domingo, como o Dia do Senhor Ressuscitado e dia especial da Igreja. Dia de participar ativamente da Sagrada Eucaristia, pois ela é o coração do Domingo.
Seria muito reduzido comparar a Eucaristia com o combustível, mas o exemplo nos ajudará. Sabemos todos, principalmente quem é motorista, que quanto mais usamos um carro mais ele precisa estar em dia com a manutençao e o combustível. Na nossa vida espiritual é a mesma coisa, ou melhor, com mais exigências. Sabemos que temos tantas coisas para fazer durante a semana: trabalho, estudo, reuniões, relacionamento familiar, lutas contra o pecado do egoísmo, do consumismo, e mesmo momentos de lazer e tranquilidade.
Tudo isso requer que estejamos inteiros e façamos tudo como cristãos que somos, e não simplesmente máquinas, pessoas sem coração, sem alma, sem sentido. E Deus tem um banquete preparado para mim e para você toda a semana. Uma recarga grandiosa que vem diretamento do céu e não se esgota jamais. A Eucaristia é o combustível divino para o nosso desgate físico, psicológico e espiritual. Somos saciados com a mais “fina flor do trigo e o mel do rochedo” (Salmos 81,17). Um cristão sem a Eucaristia é um carro que não funciona, não sai do lugar.
Todas essas dimensões da Eucaristia se encontram num aspecto que, mais do que qualquer outro, põe à prova a nossa fé: é o mistério da presença “real”. Com toda a tradição da Igreja, acreditamos que, sob as espécies eucarísticas, está realmente presente Jesus. Uma presença – como eficazmente explicou o Papa Paulo VI – que se diz “real”, não por exclusão, como se as outras formas de presença não fossem reais, mas por antonomásia, enquanto, por ela, se torna substancialmente presente Cristo completo na realidade do seu corpo e do seu sangue. Por isso, a fé pede-nos para estarmos diante da Eucaristia com a consciência de que estamos na presença do próprio Cristo. É precisamente a sua presença que dá às outras dimensões – de banquete, memorial da Páscoa, antecipação escatológica – um significado que ultrapassa, e muito, o de puro simbolismo. A Eucaristia é mistério de presença, mediante o qual se realiza de modo excelso a promessa que Jesus fez de ficar conosco até ao fim do mundo: “Eu estou convosco todos os dias” (Mt 28,20). Esta abertura ao transcendente é que nos induz a um “obrigado” perene.
Por Cristiane Monteiro, membro da Comunidade Canção Nova
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