O PÃO DOS HEREGES

ANO 400 - CONSTANTINOPLA 

São João Crisóstomo*, esclarecido luminar de seu século, foi chamado “Crisóstomo” devido às torrentes de sagrada eloqüência que fluíram de seus lábios; e foi também chamado “martelo da heresia”, devido à eficácia e vigor de sua argumentação em defesa da Fé católica.

Conseguiu, com sua pregação, converter inúmeros hereges macedônios. O Senhor permitiu que acontecesse um fato maravilhoso com uma mulher que se obstinava em permanecer filiada aos sectários, e tal fato determinou por fim sua perfeita conversão.

As verdades católicas expostas por Crisóstomo mostravam-se tão evidente ao marido dessa mulher, que lhe pareceu que não deveria tolerar por mais tempo que sua esposa professasse os perniciosos erros da heresia.

Procurava persuadi-la a renunciar a eles e abraçar a verdadeira Fé católica, mas nenhum fruto tirava de seus conselhos nem de suas longas discussões, porque era grande a tenacidade com que ela aceitava as opiniões heréticas.

Afinal, esgotados todos os meios de conduzi-la ao bom caminho, ameçou de separar-se dela se não acedesse aos seus desejos, seguindo o bom exemplo que lhe tinha dado.

A mulher, para obedecer ao marido na aparência, mas perseverando na sua obstinação, lhe disse que faria o que mandava; mas, combinado antes com uma criada sua, foi a um templo de hereges e, tomando o pão falsamente consagrado que davam a seus adeptos, deu-o à criada para que guardasse; em seguida foi à igreja dos católicos com seu marido, para comungar e assegurar-lhe que já era católica, e recebendo a Sagrada Hóstia, fingindo que se inclinava para orar, deu-a à criada que estava ao seu lado, e tomou dela o pão recebido dos hereges, o qual imediatamente se transformou em pedra.

A desventurada mulher, atônita e fora de si, procurou São João Crisóstomo para narra-lhe o que lhe tinha acontecido, e ele a converteu à Fé católica e publicou o milagre, conservando-se em Constantinopla, para perpétua memória, aquela pedra em que o pão dos hereges se tinha convertido.

(Sozomeno, Vida de San Juan Crisóstomo, liv. 8, cap. 5 – Baronius, Annales Ecclesiastici, t. 5, p. 126)
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* São João Crisóstomo, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja, passoi alguns anos como eremita solitário no deserto e depois foi sacerdote em Antioquia. Nomeado bispo e patriarca de Constantinopla, esforçou-se para moralizar o Clero, no qual havia desvios e escândalos, e chegou a depor bispos indignos. Denunciou também, corajosamente, abusos de autoridades civis. Despertou, por tudo isso, antipatias em pessoas poderosas, tanto na ordem espiritual quanto na temporal. Foi, em conseqüência, duas vezes desterrado e morreu no exílio, no ano de 407. Era amigo íntimo e tinha sido colega de estudos de São Basílio Magno. Sua eloqüência extraordiária lhe valeu o título de Crisóstomo, que em grego significa “Boca se Ouro” e a designação, pelo Papa São Pio X, como o patrono da eloqüência sagrada. É considerado um dos quatro grandes Doutores da Igreja Oriental e deixou uma produção intelectual abundante e variada, composta de aproximadamente 600 sermões e discursos.

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