JESUS E A DITADURA DA MODA


Sábado. A noitece em um dos maiores shoppings da cidade. Sombras se multiplicam em movimento entre os corredores, entrando e saindo das lojas, na praça de alimentação. Ao fundo, o som de brinquedos eletrônicos mistura-se a uma “música ambiente” quase inaudível e ao barulho de milhares de vozes, formando uma sinfonia ensurdecedora, que poucos chegam a perceber. Ninguém se importa. Há uma espécie de hipnose em gente que sonha vestir as mais badaladas grifes e estar sempre na última moda. As vitrines seduzem as pessoas como lâmpadas fascinam mariposas.

Em outros centros comerciais a paisagem muda, mas o comportamento é idêntico. O consumo cresce. Empresas gastam milhões em novas lojas, que têm o ambiente projetado para atrair e encantar. São pequenas fábricas de dinheiro cuja matéria-prima é a vaidade, o desejo imoderado de atrair atenção.

Somos todos vistos como consumidores em potencial, e é o “consumo que tem feito o mundo girar”, segundo especialistas.

É triste perceber que nós, jovens e adolescentes, muitas vezes nos tornamos alvos fáceis da artilharia do consumismo. Quando nascemos, o mundo já girava nesse ritmo e, por não sabermos como sair dessa, nos deixamos engolir por esse furacão vertiginoso.

Sabemos que a adolescência é o período em que a personalidade começa a “tomar corpo”. Nesse tempo temos oportunidade de fazer uma escolha mais livre e consciente dos valores que nortearão nossas vidas. Também nesse momento despertamos para a busca da nossa identidade, queremos descobrir quem somos, tememos a rejeição e necessitamos ser aceitos, amados... Daí o fato de ser muito comum nessa fase uma certa identificação com o grupo de amigos (ou com “ídolos”) no modo de falar, de se portar e vestir...

O fato de estarmos ainda descobrindo quem somos nos torna frágeis, vulneráveis aos constantes ataques da mídia, que investe alto para nos transformar em consumidores, para nos convencer da “necessidade” que temos dos produtos que estão sendo anunciados. Não é à toa que o chamado “mercado jovem” é um dos mais lucrativos.

Chega a ser “golpe baixo” o que as grandes marcas e a ditadura da moda fazem conosco. Elas sabem das nossas inseguranças, do desejo que temos de ser aceitos, e por isso tentam nos convencer de que valemos o que vestimos, de que somos o que vestimos e que se usarmos a marca “tal” seremos bem-vistos, bem-aceitos etc. E acabamos entrando nesse jogo. Vestimos as marcas, submetemo-nos à moda e esperamos que ela nos proporcione aquilo que promete: segurança, identidade, aceitação, valor... e quando isso não acontece nos frustramos e corremos em busca de outras marcas, de novas aquisições que nos façam sentir alguém, que diminuam o gosto amargo do vazio que fica em nossa boca... A frustração e o vazio só aumentam, e no meio desse turbilhão é difícil perceber quão paradoxal é essa situação e quão contraditórias acabam sendo nossas atitudes: superestimamos nossa imagem, mas queremos ser amados pelo que há dentro de nós; nos portamos e vestimos igual a todos, mas lutamos para provar que somos diferentes...

Somos levados a supervalorizar o que está fora, a “embalagem”, as roupas de marca, o corpo “sarado”, os acessórios da moda...e muitas vezes sofremos quando não temos no guarda-roupa “aquela calça” (ou seja lá o que for) que vimos na semana passada (e que nem sempre tem a nossa cara, mas como todo mundo está usando, acabamos nos acostumando)... E isso é tão perigoso! Não raro encontramos pessoas que investem todo o seu tempo livre, inteligência e saúde, sua vida nisso! É por essa escravidão que muitos trocam a liberdade que nos foi dada por Deus!

Alguém pode estar pensando: “Ih, lá vem! Daqui a pouco você vai dizer que temos de andar em farrapos!” Não, claro que não! Definitivamente não é isso que Deus quer. Certamente, Ele deseja que cuidemos com zelo e amor daquilo que Ele mesmo nos confiou; e andar sujo e mal vestido não é, de modo algum, sinal de desapego; é antes sinal de desleixo, de falta de zelo. O que Ele quer é que fique bem claro para nós que não precisamos da escravidão que os modismos tentam nos impor. Não pertencemos às marcas, não pertencemos nem a nós mesmos, somos propriedade de Deus, fomos comprados por um alto preço: o sangue de Cristo! (cf. 1Cor 6,20).

Precisamos deixar que em nosso meio e dentro de nós reine Jesus e não a ditadura da moda. A nossa maneira de vestir não deve ser algo vindo de fora para dentro, mas reflexo do nosso ser interior, daquilo que verdadeiramente somos, e daquele que em nós habita.

Em vez de tentar nos identificar com modas ou marcas que jamais conseguirão conter a totalidade do nosso ser, por que não procuramos nossa identidade onde seguramente a encontraremos? Em Jesus, não só seremos capazes de desvendar nossa identidade, como também de enxergá-la revestida de uma dignidade e valor que marca nenhuma no mundo seria capaz de nos dar. Somos filhos muitíssimo amados de Deus, nele encontramos todo amor e acolhida. Ele, mais que ninguém, é capaz de dizer quem somos (afinal, quem melhor do que o autor para falar de sua obra?). Então, em vez de optar pela escravidão de nos encaixar naquilo que a mídia, a moda e os outros esperam que sejamos, experimentemos a liberdade de descobrir e ser o que Deus pensa de nós!

Renata M. Bezerra
Fonte: Comunidade Católica Shalom

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