NINGUÉM RESISTE AO CÍRIO




Aproxima-se uma das maiores festas religiosas do mundo católico, cujos benefícios alcançam toda a sociedade na Arquidiocese de Belém e em todo o Pará, lançando pontes para outras regiões que se beneficiam do Círio de Nazaré. Apraz-me apresentar o ensinamento da Igreja, na V Conferência Geral do Episcopado latino-americano e caribenho, para ajudar-nos a viver o Círio 2011, aplicando-o ao nosso ambiente de fé.


O precioso documento considera as manifestações de piedade popular como um dos lugares privilegiados para o encontro com Jesus Cristo. Nas peregrinações, romarias e procissões, o povo de Deus se reconhece em caminho. Nos inúmeros peregrinos que acorrem a Belém, celebra-se a alegria de se sentir imerso em meio a tantos irmãos, caminhando juntos para Deus que os espera. O próprio Cristo se fez peregrino e caminha ressuscitado entre os pobres.


A decisão de caminhar em direção ao santuário já é uma confissão de fé, o caminhar é um verdadeiro canto de esperança e a chegada é um encontro de amor. O olhar do peregrino para a imagem da Virgem de Nazaré simboliza a ternura e a proximidade de Deus e da Mãe de Deus. O amor se detém, contempla o silêncio, desfruta dele em silêncio. Também se comove, derramando todo o peso de sua dor e de seus sonhos. A súplica sincera, que flui confiadamente, é a melhor expressão de um coração que renunciou à auto-suficiência, reconhecendo que, sozinho, nada é possível. Um breve instante de pedido sintetiza uma viva experiência espiritual.


Peregrinos do Círio somos todos nós, chamados a viver a experiência de um mistério que nos supera, uma realidade que envolve a vida de Igreja e supera nossa família, nosso bairro e nosso trabalho. Na Basílica Santuário Arquidiocesano de Nazaré, esperamos tomar decisões que marquem nossas vidas. O Círio e a Basílica contêm muitas histórias de conversão, de perdão e de dons recebidos que milhões de pessoas poderiam contar.


A piedade popular penetra delicadamente a existência pessoal de cada fiel e ainda que se viva em uma multidão, envolve toda a nossa vida. Nos diferentes momentos da luta cotidiana, muitos de nós recorremos a algum sinal do amor de Deus: um crucifixo, uma medalha, um rosário, uma vela que se acende para acompanhar um filho em sua enfermidade, um Pai Nosso recitado entre lágrimas, uma Ave-Maria, uma promessa, uma corda que nos faz próximos uns dos outros para nos aproximar de Deus, um olhar carinhoso para a imagem querida de Maria, um sorriso dirigido ao Céu em meio a uma simples alegria.


Nossa piedade popular mariana é uma maneira legítima de viver a fé, um modo de se sentir parte da Igreja e uma forma de ser missionários, onde se recolhem as mais profundas vibrações de nosso coração, de nossa cultura e mais ainda de nossa fé. No ambiente de secularização em que vivem nossos povos, o Círio continua sendo uma poderosa confissão do Deus vivo que age na história e um canal de transmissão da fé. O caminhar juntos para o santuário e a participação em outras manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador pelo qual o povo cristão evangeliza a si mesmo e cumpre a vocação missionária da Igreja. (Cf. Documento de Aparecida 259-264)


Não haja uma casa sem os sinais da devoção mariana! Apresentem-se o Rosário, as imagens da Virgem de Nazaré, os cartazes do Círio com tantos rostos de gente nossa, e as recordações dos votos feitos a Deus. Enfeitem-se as ruas e as casas com profusão de flores e cores. Continuem a ressoar os "vivas", as buzinas e os fogos de artifício. Emocionem-se todos, sem acanhamento! A cada pessoa que acolhe esta mensagem, como pastor da Igreja de Belém, entrego a tarefa de "não resistir ao Círio" e envolver, a modo de missão, seus parentes, amigos e vizinhos para a grande festa da Igreja em nossa Arquidiocese. Feliz Círio para todos! 




Dom Alberto Taveira
Arcebispo metropolitano de Belém do Pará


Fonte: Conversa com meu povo

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